quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

Trata-se de um Testemunho Remanescente


A primeira razão pela qual os “santos reunidos” são relativamente poucos em número é que estamos em um dia de coisas pequenas. Zacarias 4:9-10 diz, “As mãos de Zorobabel têm fundado esta casa, também as suas mãos a acabarão, para que saibais que o Senhor dos Exércitos me enviou a vós. Porque, quem despreza o dia das coisas pequenas?”. Os tempos em que Zacarias foi chamado a viver foram dias de testemunho remanescente. Naquele tempo, o Senhor permitiu que Seu povo fosse levado para a Assíria (2 Rs 17:6) e para a Babilônia (2 Rs 24-25), e apenas um remanescente deles tinha retornado ao centro divino em Jerusalém. Um dos traços característicos de um testemunho remanescente é que ele é “pequeno” – a maior parte do povo de Deus é vista não estando nele. Vivemos em dias de testemunho remanescente na história da Igreja e não podemos esperar que haja grandes números de pessoas reunidas ao nome do Senhor da forma que Deus originalmente pretendia antes que a ruína entrasse.
Acredito que é de extrema importância compreender o que se entende por “um testemunho remanescente”; então deixe-me explicar mais detalhadamente. Um grande princípio segundo o qual Deus age, quando aquilo que Ele confiou em testemunho nas mãos dos homens falha, é que Ele reduz o seu tamanho, força, glória e números, e daí em diante o conduz em forma de remanescente. Ele não Se identifica com esse testemunho em poder e glória como fazia antes quando foi estabelecido pela primeira vez. Se Ele fizesse isso, iria parecer perante o mundo que Ele estava consentindo no seu estado caído e corrompido. Em vez disso, Ele recorre ao Seu poder e graça soberana para manter o Seu testemunho, porém em forma de remanescente. A palavra “remanescente” quer dizer uma pequena parte do todo. Logo, a própria natureza de tal testemunho é a pequenez em tamanho. Se todo o Seu povo estivesse ali participando dele, não seria um remanescente. Deus agiu segundo esse princípio em Israel no passado; Ele fará isso novamente com o remanescente judeu em um dia vindouro; e Ele está fazendo isso hoje no testemunho Cristão.
Para enxergar com mais clareza esse princípio na Palavra de Deus, vamos passar para Deuteronômio 12:5-7; “Mas o lugar que o Senhor vosso Deus escolher de todas as vossas tribos, para ali pôr o Seu nome, buscareis para Sua habitação, e ali vireis. E ali trareis os vossos holocaustos, e os vossos sacrifícios, e os vossos dízimos, e a oferta alçada da vossa mão, e os vossos votos, e as vossas ofertas voluntárias, e os primogênitos das vossas vacas e das vossas ovelhas. E ali comereis perante o Senhor vosso Deus.” Isso mostra claramente que o desejo original de Deus para o Seu povo Israel era reuni-lo para a adoração nesse lugar único de Sua escolha, que era Jerusalém.
Agora vamos passar para 1 Reis 11:9-13: “Pelo que o Senhor Se indignou contra Salomão: porquanto desviara o seu coração do Senhor Deus de Israel, O qual duas vezes lhe aparecera. E acerca desta matéria lhe tinha dado ordem que não andasse em seguimento de outros deuses: porém não guardou o que o Senhor lhe ordenara. Pelo que disse o Senhor a Salomão: Pois que houve isto em ti, que não guardaste o Meu concerto e os Meus estatutos que te mandei, certamente rasgarei de ti este reino, e o darei a teu servo. Todavia nos teus dias não o farei, por amor de Davi teu pai: da mão de teu filho o rasgarei: Porém todo o reino não rasgarei: uma tribo darei a teu filho, por amor de Meu servo Davi, e por amor de Jerusalém, que tenho elegido.”
Então, nos versículos 29-36 diz: “Sucedeu, pois, naquele tempo que, saindo Jeroboão de Jerusalém, o encontrou o profeta Aías, o silonita, no caminho, e ele se tinha vestido dum vestido novo, e sós estavam os dois no campo. E Aías pegou no vestido novo que sobre si tinha, e o rasgou em doze pedaços. E disse a Jeroboão: Toma para ti os dez pedaços, porque assim diz o Senhor Deus de Israel: Eis que rasgarei o reino da mão de Salomão, e a ti darei as dez tribos. Porém ele terá uma tribo, por amor de Davi, Meu servo, e por amor de Jerusalém, a cidade que elegi de todas as tribos de Israel. Porque me deixaram, e se encurvaram a Astarote, deusa dos sidônios, a Camós, deus dos moabitas, e a Milcom, deus dos filhos de Amom; e não andaram pelos Meus caminhos, para fazerem o que parece reto aos Meus olhos, a saber, os Meus estatutos e os Meus juízos, como Davi, seu pai. Porém não tomarei nada deste reino da sua mão: mas por príncipe o ponho por todos os dias da sua vida, por amor de Davi, Meu servo, a quem elegi, o qual guardou os Meus mandamentos e os Meus estatutos. Mas da mão de seu filho tomarei o reino, e to darei a ti, as dez tribos dele. E a seu filho darei uma tribo; para que Davi, Meu servo, sempre tenha uma lâmpada diante de Mim em Jerusalém, a cidade que elegi para pôr ali o Meu nome.”
Em seguida, no capítulo 12:22-24 diz: “Porém veio a Palavra de Deus a Semaías, homem de Deus, dizendo: Fala a Roboão, filho de Salomão, rei de Judá, e a toda a casa de Judá, e a Benjamim, e ao resto [remanescente – KJV] do povo, dizendo: Assim diz o Senhor: Não subireis nem pelejareis contra vossos irmãos, os filhos de Israel; volte cada um para a sua casa, porque Eu é que fiz esta obra.”
Vemos com isso que embora o desejo original de Deus fosse que todo o Seu povo se reunisse em Jerusalém para oferecer seus sacrifícios (Dt 12), como o fracasso tinha entrado, Ele não iria continuar o Seu testemunho no Seu centro divino no mesmo poder e glória de antes. Salomão e os filhos de Israel tinham falhado e se desviado do Senhor para a idolatria (1 Rs 11:10-11, 33), o que levou o Senhor a mudar os Seus caminhos em relação a eles. Ele iria reduzir o tamanho, o poder e a glória do Seu testemunho em Israel e iria levá-lo daí em diante em um “remanescente”. Esta é a primeira vez na Escritura que essa palavra é usada em conexão com o testemunho público do povo de Deus. É importante observar a “regra da primeira vez” na interpretação bíblica, isto é, quando algo é usado pela primeira vez na Escritura, ele geralmente dá o sentido de como ele será usado posteriormente em outras passagens. Assim, fazemos bem em prestar atenção ao que é dito aqui. O princípio de um testemunho remanescente é desenvolvido com mais detalhes em Ezra e Neemias, e nos escritos dos profetas Ageu, Zacarias e Malaquias. Entretanto, eu fiz vocês olharem essa passagem em 1 Reis porque ela demonstra o princípio de forma clara e simples.
O que é importante ver aqui é que houve uma mudança marcante nos caminhos de Deus quando o fracasso chegou. Ele removeu dez das tribos do centro divino e manteve apenas “uma tribo” lá – um remanescente. Isso não foi uma contradição dos princípios de Deus, mas uma mudança em Seus caminhos quando o fracasso generalizado tinha chegado.
Agora você poderia dizer: “Consigo ver esse princípio no trato de Deus com Israel no Velho Testamento, mas será que ele pode ser aplicado àqueles que vivem nos tempos do Novo Testamento? Realmente existe essa coisa de testemunho remanescente na Igreja?” A resposta, de forma inequívoca, é sim. Você vê isso na passagem que olhamos em 2 Timóteo 2:19-22. Ali, Deus encoraja os crentes exercitados a se separarem da mistura existente na casa de Deus e a se retirarem para uma posição remanescente “com os que, com um coração puro, invocam o Senhor”.
Mas, para ver isso de forma mais clara, abra agora em Apocalipse, capítulos 2 e 3. Esses capítulos trazem um esboço da história profética da Igreja desde os seus dias iniciais, logo depois dos apóstolos, até os seus últimos dias. Se seguirmos o curso das coisas como retratado nas mensagens às sete igrejas, veremos um curso de declínio no testemunho Cristão, até que finalmente se chega a um ponto em que não há restauração, e a partir daí o Senhor age segundo o princípio de um testemunho remanescente.
Em Éfeso, aprendemos que “o anjo da igreja” (os líderes responsáveis) julgou corretamente tudo o que era incompatível com o Senhor. Ali diz que eles não podiam “suportar os maus” (TB). Infelizmente, porém, seu coração não estava com Ele nisso (Ap 2:2-4). Em Esmirna, qualquer aumento no declínio foi temporariamente suspenso pelas grandes perseguições que vieram sobre a Igreja. A severidade da provação lançou-os de volta ao Senhor. Porém, em Pérgamo, quando os tempos de grande perseguição acabaram, “o anjo da igreja” começou a tolerar alguns que seguiam “a doutrina de Balaão”, que é o mundanismo e a idolatria. O anjo não foi acusado de seguir essas doutrinas, mas o Senhor encontrou culpa nele por ele não denunciar o mal, como fez o anjo em Éfeso.
Em Tiatira, prevalecia uma condição pior: “o anjo da igreja” permitiu que a mesma má doutrina e prática sustentadas por alguns em Pérgamo fossem ensinadas! (Compare Apocalipse 2:14 com 2:20.) O que começou com alguns sustentando má doutrina resultou em muitos ensinando a má doutrina. Isso mostra que se o mal está sendo sustentado e a situação não é julgada, ele acabará sendo proposto. Em Tiatira, o ensino desse mal evoluiu para um sistema de coisas chamado “Jezabel”, que certamente corresponde ao catolicismo. Na Idade Média, esse sistema perverso exercia, com sua força e organização, um domínio tão tirânico sobre a Igreja como um todo que controlava o anjo! Aqueles que ocupavam o lugar de responsabilidade haviam falhado em lidar com a coisa quando tinham condições, e agora ela tinha se transformado em um monstro que os controlava! (Compare Atos 27:14-15. O “euro-aquilão”, um forte vento mediterrâneo, batia sobre a embarcação, e os marinheiros não podiam fazer nada, senão “deixando ela ir” [JND]). A figura de “Jezabel” é apropriadamente usada aqui, porque essa mulher não só introduziu formalmente a idolatria para Israel, como também controlou e manipulou seu marido, o rei Acabe.
Sendo assim o estado público da Igreja, onde não restou poder algum para lidar com o mal, o Senhor separou um remanescente, dizendo: “Mas Eu digo a vós, os restantes [remanescentes]... (JND) Ele abandonou a massa (Ap 2:24). Dali em diante, Ele trabalhou com um remanescente que ouviria o que o Espírito estava dizendo às igrejas. Aqui temos a palavra “remanescente” sendo usada em conexão com o testemunho Cristão. É significativo que o Senhor não tenha colocado sobre eles o “fardo” (TB) de consertar a confusão no testemunho Cristão, em um esforço de trazer a Igreja de volta para onde ela uma vez esteve. Em vez disso, Ele redirecionou o foco deles para a Sua vinda, dizendo: “retende-o até que Eu venha” (Ap 2:25).
Daquele ponto em diante é vista uma mudança marcante nos caminhos do Senhor com a Igreja. Até ali, a voz do Espírito era para toda a Igreja. “O que o Espírito diz às igrejas” vinha antes da promessa oferecida ao vencedor nas três primeiras igrejas. Isso indica que a recompensa para o vencedor foi colocada diante de toda a Igreja, pois o Senhor ainda estava lidando com ela de um modo geral. Mas agora, nesse ponto, a ordem é invertida. O chamado “ouça o que o Espírito diz às igrejas” vem depois da promessa para o vencedor. É esta a ordem nas últimas quatro igrejas. O que o Espírito tem a dizer a respeito da ordem da Igreja não é mais direcionado à massa, mas apenas ao vencedor. Isso porque se supõe que somente o vencedor irá ouvir o que o Espírito está dizendo; não se espera que a massa irá ouvir e se arrepender. A previsão de Paulo para Timóteo de que as massas “desviarão os ouvidos da verdade” aconteceu (2 Tm 4:2-4) e, portanto, o Espírito não está mais falando com o corpo como um todo.
Ao comentar essa mudança, J. N. Darby disse que o corpo como um todo é “deixado de lado” desse ponto em diante, porque a massa pública na profissão Cristã é tratada como sendo incapaz de ouvir e arrepender-se. W. Kelly disse, “o Senhor a partir de então coloca primeiro a promessa [ao vencedor], e a razão para isso é que é em vão esperar que a Igreja como um todo a receba... apenas um remanescente vence, e a promessa é para eles; quanto aos outros, está tudo acabado”. Como resultado, o Senhor já não esperava que a massa da profissão Cristã fosse ouvir e retornar ao ponto de onde se tinha desviado. Qualquer ideia de recuperar a Igreja como um todo é abandonada porque ela atingiu um ponto sem chance de recuperação. É por isso que eu não creio que o Espírito esteja necessariamente falando a cada pessoa na Cristandade hoje a respeito da verdade de reunião. Com a maioria, Ele está deixando que elas sigam o seu próprio caminho em relação às suas afiliações eclesiásticas.
Trabalhando com um testemunho remanescente desde essa época, aprouve ao Senhor recuperar a verdade que foi perdida pelo descaso na Igreja nos séculos anteriores. No entanto, Ele não achou apropriado recuperar toda a verdade de uma só vez. O remanescente mencionado em Apocalipse 2:24-29 são os Valdenses, os Albigenses, e outros como eles que se separaram do mal de “Jezabel” nos tempos medievais. Foi dito a eles, “retende” a pouca verdade que possuíam. Algum tempo depois, chegando até a Reforma, o Senhor permitiu que um pouco mais de verdade fosse recuperado, como por exemplo a supremacia da Bíblia e a fé unicamente em Cristo para a salvação. Mas esse movimento do Espírito foi barrado pelos reformadores, que recorreram a certos governos nacionais em busca de ajuda contra as perseguições da igreja de Roma. Isso foi o mesmo que recorrer à carne em busca de ajuda, em vez de depender do Senhor (Jr 17:5; Sl 118:8-9; Is 31:1). O resultado foi a formação das grandes igrejas nacionais na Cristandade, e teve início a condição de morto do protestantismo, como retratado na igreja em Sardes (Ap 3:1-6).
Não foi senão até o início de 1800 que o Senhor trouxe uma recuperação completa da “fé que uma vez foi dada aos santos” (Jd 3), que aconteceu quando homens saíram de toda organização formal, feita pelo homem, na Igreja. Isso é retratado na mensagem do Senhor à igreja em Filadélfia (Ap 3:7-13). Nesse momento, Deus estabeleceu um testemunho corporativo para a verdade do um só corpo. Antes disso, o remanescente consistia em indivíduos que procuravam seguir fielmente em separação da corrupção da igreja romana. Estamos agora em dias em que cada um está fazendo o que é reto aos seus próprios olhos (Jz 21:25), e a maioria está satisfeita no seu triste estado. Isso é retratado na igreja em Laodiceia (Ap 3:14-22).
A questão aqui é que o testemunho Cristão atingiu um ponto de irremediável ruína, o que exigiu uma mudança no modo de o Senhor tratá-lo. Ele abandonou qualquer tentativa de restaurar o estado público da Igreja e agora está trabalhando em um testemunho remanescente.
Assim como foi com Israel, para manter hoje um testemunho remanescente da verdade do um só corpo, o Senhor não precisa ter todos os Cristãos no mundo congregados ao Seu nome, embora seja este o Seu desejo para com eles. Como mencionado, o próprio significado da palavra remanescente implica que nem todos estão ali. Em divina prerrogativa e graça, Deus está tomando um aqui e outro ali, e está reunindo-os ao nome do Senhor para que esse testemunho remanescente possa ser levado adiante. A manutenção do testemunho é uma obra soberana. Isso é visto na observação que o Senhor faz à Filadélfia: “O que abre, e ninguém fecha; e fecha, e ninguém abre” (Ap 3:7). Nenhum homem ou demônio pode impedir a continuação desse testemunho, ainda que ele possa parecer seguir em muita fraqueza. Por mais humilde que seja, o Senhor não precisa de nenhum daqueles que Ele reuniu, independentemente de quão talentosos ou espirituais eles possam ser. Se não quisermos estar ali e formos embora, o Senhor irá reunir outra pessoa para que esse testemunho remanescente seja levado adiante até Sua vinda. Só o fato de existir alguém reunido já é inteiramente uma obra de Deus; a graça que salva uma alma é a mesma graça que reúne ao nome do Senhor. Se algum de nós ouviu “o que o Espírito diz às igrejas” e enxerga a verdade de reunião, é só porque Ele abriu os nossos ouvidos (Pv 20:12).

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