quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

CAPÍTULO 7: A Assembleia Não é Uma Democracia.


PERGUNTA: Como algo pode ser considerado uma “decisão de assembleia” quando muitos na assembleia não concordam com ela?
RESPOSTA: Talvez eu deva fazer alguns comentários sobre como uma “decisão de assembleia” é formulada, antes de responder a essa pergunta.
Quando surgem problemas e é preciso um julgamento ou ação administrativa em um caso que chega diante da assembleia, os irmãos responsáveis se reúnem separadamente da assembleia para ter um entendimento dos fatos e examinar as Escrituras para determinar o que a assembleia deve fazer. Esse princípio é visto em Atos 15. Embora o que aconteceu em Atos 15 não fosse exatamente uma reunião local de “cuidados” da forma como a conhecemos, já que era uma reunião de irmãos de várias localidades diferentes, a passagem estabelece o princípio de que os assuntos podem ser examinados pelos irmãos responsáveis separadamente da assembleia como um todo. Ali diz, “Congregaram-se, pois, os apóstolos e os anciãos para considerar este assunto” (At 15:6). Note que não é mencionada a presença das irmãs, irmãos jovens e novos convertidos. As coisas não devem ser discutidas em detalhes diante de toda a assembleia, porque pode haver algum debate (At 15:7) que não seria de boa ordem para uma reunião pública. Além disso, algumas coisas que podem contaminar poderiam ser abordadas e não seriam apropriadas em tal ambiente (1 Co 14:40).
O modo normal do Senhor guiar a assembleia local em um caminho bíblico e em suas responsabilidades administrativas é por meio daqueles que tomam a liderança (1 Ts 5:12-13; Hb 13:7, 17, 24; 1 Co 16:15-18; 1 Tm 5:17 – JND). Tomar a liderança, nessa função, não se refere a liderar no ensino ou na pregação públicos, mas aos assuntos administrativos da assembleia. Confundir as duas coisas é não entender direito a diferença entre dom e ofício. Alguns dos que tomam a liderança podem nem sequer ensinar publicamente, mas é muito bom e de ajuda quando podem (1 Tm 5:17). Esses homens devem conhecer os princípios da Palavra de Deus e ser capazes de expô-los para que a assembleia possa entender o curso de ação que Deus gostaria que ela tomasse em um determinado assunto (Tt 1:9). Esses homens não nomeiam a si mesmos para esse papel, mas são levantados pelo Espírito Santo para esse trabalho (At 20:28). Eles serão reconhecidos pela assembleia como pessoas que se entregaram ao cuidado dos santos, por seu conhecimento de princípios e por demonstrarem possuir experiência e julgamento sadios.
Existem três palavras usadas nas epístolas para descrever esses líderes responsáveis na assembleia local:
  • Primeiramente, anciãos (presbuteroi) refere-se àqueles avançados em idade, o que implica maturidade e experiência. No entanto, nem todos os homens mais velhos na assembleia atuam necessariamente no papel dos líderes (1 Tm 5:1; Tt 2:1-2).
  • Em segundo lugar, bispos ou supervisores (episkopoi) refere-se ao trabalho que eles fazem, que é pastorear o rebanho (At 20:28; 1 Pe 5:2), velando pelas almas (Hb 13:17) e fazendo admoestações (1 Ts 5:12).
  • Em terceiro lugar, eles são chamados de guias (ARA) ou líderes (hegoumenos); isso se refere à sua capacidade espiritual de liderar os santos. 
No livro de Apocalipse, os que estão nesse papel são chamados de estrelas e de o anjo da igreja [local] (Ap 1-3). Como estrelas, eles devem dar testemunho da verdade de Deus (os princípios de Sua Palavra) como portadores de luz na assembleia local, fornecendo luz sobre diversos assuntos com os quais ela possa ser confrontada. Isso é ilustrado em Atos 15. Embora não esteja relacionado exatamente com “ligar” e “desligar”, aprendemos princípios valiosos da função administrativa na Igreja. Depois de ouvir o problema que estava afligindo a assembleia, Pedro e Tiago lançaram luz espiritual sobre a questão. Tiago aplicou um princípio da Palavra de Deus e emitiu seu julgamento sobre o que ele acreditava que o Senhor gostaria que eles fizessem (At 15:15-21). Como o anjo da igreja, os que estão nesse papel devem atuar como mensageiros para prover a mente de Deus na assembleia ao executar a coisa. Isso também é ilustrado em Atos 15:23-29.
Quando esses irmãos sentirem que discerniram a mente do Senhor, a partir das Escrituras, quanto ao que a assembleia deve fazer em um determinado caso que está diante deles, então eles trazem os fatos (não necessariamente os detalhes, pois estes poderiam contaminar) e as conclusões bíblicas diante da assembleia para que a consciência de todos possa estar engajada na questão (At 15:22). Então torna-se uma decisão ratificada, ligada (Mt 18:18-20). Ela é chamada de “decisão de assembleia” porque é feita em assembleia – isto é, quando a assembleia está reunida como tal, com o Senhor no meio (1 Co 5:4) –, e não porque todos na assembleia concordam.
Tem sido perguntado: “Quem decide o que deve ser feito em um determinado caso que chega diante da assembleia?” Nossa resposta é: o Senhor. Ele é a Cabeça da Igreja, e a assembleia deve tomar sua direção d’Ele (Cl 2:18). Os irmãos responsáveis podem ter que examinar uma questão para obter os fatos, mas, depois de serem apurados, a Palavra de Deus decide o que deve ser feito.
Alguns têm o pensamento de que os irmãos devem simplesmente formular uma proposta para a assembleia e, quando a trouxerem para a assembleia, a assembleia como um todo então decide. Isso é democracia, e as ações da assembleia não são executadas por meio de princípios democráticos. Os irmãos que “tomam a liderança” são responsáveis por garantir que a assembleia seja guiada em um curso de ação fundamentado na Escritura, independentemente de todos na assembleia concordarem ou não. Se não fosse assim, então os irmãos responsáveis mais velhos (que entendem os princípios e sabem o que deve ser feito) poderiam ter seu julgamento piedoso e fundamentado na Escritura impedido pelas irmãs e pelos neófitos, ou por partidários do transgressor que está sendo julgado. Isso significa que um julgamento fundamentado na Escritura ficaria sujeito àqueles que têm pouca experiência, ou conhecimento, ou talvez influência em questões de assembleia. Certamente algo assim não estaria correto. Alguns parecem achar que os irmãos não podem agir até receberem o “OK” dessas pessoas, mas isso equivale ao povo controlando seus líderes e é o princípio em que a democracia está enraizada. Muitos tropeçaram exatamente nisso quando os anciãos procuraram realizar um julgamento bíblico, e alguns discordaram da ação.
Isso não quer dizer que os anciãos tomam as decisões administrativas na assembleia e o resto dos santos não tem nenhuma participação. É possível irmãos mais jovens terem a mente do Senhor em uma questão em que os irmãos mais velhos talvez a tenham deixado passar (Jó 32-33). Em tal caso, os irmãos mais velhos devem ficar felizes em aceitar luz sobre uma questão que eles podem não ter visto. Mas na vida normal de assembleia, os irmãos mais velhos e experientes que entendem os princípios envolvidos são aqueles que têm o peso moral nessas questões de assembleia.
Nada pode ser oficialmente decidido sem que a assembleia tenha a oportunidade de ter a sua consciência exercitada no assunto, e é por isso que os anciãos devem procurar atingir a consciência de todos na assembleia, trazendo-o diante deles (At 15:22). Os irmãos responsáveis devem ser sensíveis a qualquer objeção legítima que alguém da assembleia possa ter. Mas, no final, será deles a responsabilidade, como “o anjo” da igreja, de agirem para a glória de Deus (Ap 2-3). Mas não é uma decisão da assembleia até que seja feita na assembleia, no que às vezes é chamado de reunião para disciplina (Mt 18:19-20; 1 Co 5:4).
Ao formularem as decisões de assembleia, os líderes responsáveis devem procurar alcançar a consciência de todos na assembleia local para que todos possam ser exercitados no assunto; no entanto, a assembleia pode não seguir a consciência de alguns. Como mencionado, isso porque eles podem ser jovens na fé cuja consciência pode não estar suficientemente instruída em princípios bíblicos para ser capaz de formar um julgamento correto. Eles poderiam ser mundanos e não ter o discernimento espiritual, ou eles poderiam ser tendenciosos no assunto. Em qualquer caso, o julgamento deles deve ser desconsiderado. A Escritura não exige que haja um “De acordo.” de todos na assembleia antes que possa ser uma decisão legítima.
Nestes últimos dias, quando a vontade do homem está cada vez mais evidente em se impor na igreja, não podemos esperar conseguir unanimidade em julgamentos de assembleia. Foi assim no julgamento em Corinto. 2 Coríntios 2:5 diz, “Se alguém tem causado tristeza, tem causado tristeza não a mim, porém em parte... a todos vós” (TB). Aparentemente, nem todos na assembleia de Corinto ficaram tristes com o pecado em seu meio. Mesmo assim, a assembleia ainda executou a ação para a glória de Deus.
Ao lidar com uma situação de heresia, você raramente – talvez nunca – irá conseguir a aprovação da pessoa que está sendo julgada pela assembleia. Além disso, membros da família e simpatizantes podem se opor, então geralmente não haverá unanimidade. J. N. Darby disse, “A unanimidade é absurda, uma negação do poder e da operação do Espírito, e completamente contrária à Palavra de Deus. Primeiro, ela é absurda, pois até que o caso seja decidido, a pessoa que está sendo acusada faz parte da assembleia, e você não vai conseguir fazê-la concordar, como se conduzida pelo Espírito, em julgar seu próprio caso.”
Ocasionalmente decisões foram tomadas pela assembleia quando alguns irmãos não estavam na reunião local de cuidados, ou na reunião de assembleia onde a decisão foi tomada. Isso levou alguns a pensarem que essa não poderia ser uma genuína decisão de assembleia ratificada no céu. Eles bradam, “Mas nem todos os irmãos estavam lá para decidir!” Mais uma vez, essa é uma ideia democrática. A assembleia agindo em sua capacidade administrativa sem a presença de todos não é algo incomum na Escritura. Vemos este princípio em 1 Coríntios 15:5, em relação ao ofício do apostolado. Ali diz, “E que foi visto por Cefas, e depois pelos doze”. Quando comparamos com Lucas 24:34-48 e João 20:19-24, descobrimos que havia apenas dez apóstolos presentes quando o Senhor apareceu a eles; ainda assim, eles são chamados de “os doze”! Judas tinha se enforcado e Tomé não estava ali. De acordo com Atos 1, Matias ainda não era parte dos “doze”. A eleição dele não ocorreu senão depois de o Senhor ter completado todas as Suas aparições como ressuscitado (durante 40 dias) e subido ao céu. Mesmo assim, aqueles reunidos são chamados de “os doze”. Vemos com isso que “os doze” é um termo usado para designar o ofício administrativo que eles cumpriam e a autoridade que tinham para agir assim. Nas epístolas aos Coríntios, onde são descritas a função e a ordem na assembleia, é coerente que esse princípio seja ensinado ali. Algo digno de nota é que as aparições do Senhor às mulheres não são citadas em 1 Coríntios 15, pois a administração da assembleia é confiada aos irmãos responsáveis. Isso mostra que a assembleia, atuando em sua capacidade administrativa, não precisa da presença de todos antes que suas ações sejam ligadas.
A assembleia não é uma instituição democrática que toma suas decisões pelo voto majoritário, com todos tendo direitos iguais de opinar sobre o assunto. Uma vez ouvimos um irmão mais jovem dizer, “Eu tenho tanto direito de opinar aqui quanto ele”, referindo-se a um irmão mais velho sério e piedoso que tinha se dedicado ao cuidado da assembleia por 50 anos. Tivemos que dizer a ele que aquilo simplesmente não era verdade. Existe algo chamado peso moral, e isso é obtido com anos de fiel andar com o Senhor e cuidado com os santos. Aqueles que ocupam uma posição de liderar e guiar a assembleia carregam a maior parte do peso da assembleia em seus assuntos administrativos. Por exemplo, pode haver um caso em que seis ou sete irmãos mais jovens queiram fazer uma determinada coisa, mas três ou quatro irmãos mais velhos sérios sintam de outra forma. Como o julgamento dos irmãos mais velhos deve ser respeitado, por carregarem o peso moral na assembleia, o Senhor espera que os irmãos mais jovens se sujeitem ao julgamento dos mais velhos sobre a questão, se ele for diferente. Eles deveriam ficar felizes em seguir a direção espiritual apontada por seus irmãos mais velhos.
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RESUMO: A resposta rápida quanto a nem todos concordarem em uma ação da assembleia é que a assembleia não é uma democracia, e não é preciso unanimidade para que uma decisão de assembleia seja ligada. Aqueles que tomam a liderança carregam a maior parte do peso nas ações administrativas da assembleia. Eles são responsáveis por garantir que a assembleia caminhe de forma bíblica, quer todos concordem ou não com uma determinada decisão.

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