PERGUNTA: Como pode ser este o lugar certo quando existe todo tipo de coisas erradas acontecendo? Existem brigas, divisões, mundanismo, etc. Se o Senhor estivesse verdadeiramente no meio, Ele não permitiria que essas coisas acontecessem.
RESPOSTA: O problema aqui é fazer da tolerância do mal em uma assembleia
o critério para julgar se ela está, ou não, reunida no terreno certo. Mais uma
vez, conseguimos entender como uma pessoa pode chegar a essa conclusão: você
naturalmente pensaria que se o Senhor estivesse verdadeiramente no meio de um
determinado grupo de Cristãos, não existiriam problemas. Ele não permitiria que
a situação continuasse, porque se permitisse, então Ele estaria consentindo com
ela, o que é algo que Ele não faria.
Bem, não somos
os primeiros a levantar esta questão. Há muito tempo, Gideão perguntou, “Ai,
Senhor meu, se o Senhor é conosco por que tudo isto nos sobreveio?” (Jz 6:13) Esse dilema é resultado
de uma falsa premissa. A verdade é que o Senhor está no meio dos “santos
reunidos” para sancionar esse terreno eclesiástico, mas isso não equivale a Ele consentir no estado deles. A Escritura faz distinção entre essas duas
coisas, e precisamos fazer também. Se as enxergarmos como uma coisa só, vamos acabar
tirando conclusões equivocadas. Isso vale para a vida pessoal como também para a
vida de assembleia. Por exemplo, como crentes, o Senhor está conosco o tempo todo
em um sentido individual (Mt 28:20; Hb 13:5), mas não podemos com isso concluir
que Ele concorda com tudo o que fazemos. E, é claro, o mesmo ocorre com a assembleia.
Isso é
ilustrado em Malaquias. Como você deve saber, Malaquias teve o solene dever de
entregar a última mensagem de Deus ao Seu povo terreno – os judeus – antes que
o Senhor viesse. O povo, no tempo de Malaquias, estava em uma posição correta, porém em uma condição errada. Tendo retornado da Babilônia para o centro divino
daquela época (Jerusalém), eles estavam no lugar correto. Sendo assim, eles tinham
a presença do Senhor “com” eles (Ag 2:4-5). Mas eles estavam em um estado errado, e
por isso Malaquias foi enviado para fazer o povo se exercitar a esse respeito.
Poderíamos nos perguntar como o Senhor poderia habitar entre eles quando havia
todo tipo de coisas erradas acontecendo, mas é porque a presença do Senhor com Seu
povo (coletivamente) não equivale a Ele aprovar o estado em que estão.
No Novo
Testamento, vemos a mesma coisa. O estado da assembleia em Corinto era deplorável.
Havia todo tipo de coisas iníquas acontecendo: divisão, fornicação, má doutrina
e outras coisas que atingiam os fundamentos da fé. Ainda assim, quando o
apóstolo Paulo lhes escreveu, ele se dirigiu a eles como “a assembleia de Deus”. Eles ainda eram reconhecidos como uma assembleia que
era, no que diz respeito ao terreno divino, “de Deus”. Ele a reconhecia como tal. No capítulo 5, ele afirma
que, quando eles estavam “reunidos” (ARA), era “com o poder de nosso Senhor Jesus Cristo” (KJV). De acordo com Mateus 18:18-20,
esse poder ou autoridade só se verifica se o Senhor estiver no meio. Logo, não
só essa assembleia ainda era reconhecida por Deus, como também o Senhor estava
lá no meio deles. Repare que o versículo não diz “Onde estiverem dois ou três,
indo bem em um bom estado, reunidos... aí estou Eu no meio”. Tal condição não é
colocada nele.
Novamente, podemos nos perguntar como era possível o Senhor
ainda Se identificar com uma assembleia que tinha errado daquela forma. Não é
que o Senhor concordava com o mal existente em Corinto; Ele não iria suportá-lo
indefinidamente, pois isso passaria uma mensagem errada ao mundo. Mas naquele
momento em que Paulo escreveu a epístola, o Senhor estava dando oportunidade
para arrependimento. Cedo ou tarde, o apóstolo teria que vir
em nome do Senhor e tratar em julgamento com essa assembleia se eles não consertassem
as coisas (1 Co 4:21; 2 Co 1:23). Como vocês sabem, o aviso dado na primeira
epístola foi recebido, e os santos de Corinto se arrependeram e corrigiram as
coisas que estavam deficientes (2 Co 7:6-16). Isso mostra que o Senhor não
remove o castiçal em um lugar rapidamente, mas dá oportunidade para
arrependimento quando as coisas estão erradas (Ap 2:21). É interessante notar
que, em Apocalipse 2:5, a palavra “brevemente” (como encontramos na KJV e em muitas
versões em português) não está no texto original grego. Ali deveria estar simplesmente,
“a ti virei e tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te
arrependeres”.
A partir da
falsa premissa de que o Senhor não poderia estar no meio de uma assembleia que
tem coisas nela que estão erradas, surge a ideia de que deveríamos deixá-la por
ela estar em tal estado. O raciocínio é que, se o Senhor não está ali, então nós
também não deveríamos estar, pois você não iria querer estar em um lugar onde o
Senhor não está no meio. Alguns que queriam deixar a assembleia de qualquer
jeito usaram essa falsa premissa como uma desculpa conveniente para uma saída
rápida. O velho clamor é: “Existe mal ali, e o Senhor certamente não iria
querer que eu estivesse em comunhão com o mal!”
O erro aqui é
imaginarmos que existe um determinado grau de problemas e de mal que pode ser
tolerado em uma assembleia; e se esse limite é ultrapassado, de algum modo essa
assembleia misticamente perde o status de estar em terreno divino. Como todo
mundo tem uma ideia diferente sobre qual é esse grau, fica a critério de cada
um decidir quando ele acha que uma assembleia não está mais verdadeiramente
reunida ao nome do Senhor. Isso nos faz lembrar dos dias em que os juízes
governavam. No final do livro diz que “cada um fazia o que
parecia reto aos seus olhos” (Jz 21:25). Infelizmente, esse tipo de coisa leva à confusão.
Tem-se
perguntado com frequência: “Quando uma pessoa deve deixar uma assembleia?” É
simplesmente isto: você sai quando o Senhor sai. Mas quando isso acontece? Nos
dias dos apóstolos, seria quando a assembleia deliberadamente se recusasse a
corrigir os assuntos dentro dela, e um apóstolo tratasse com ela em julgamento
apostólico agindo pelo Senhor (1 Co 4:21; 2 Co 1:23). Hoje, seria quando outra
assembleia reunida ao nome do Senhor, depois de muito protesto e longanimidade deixasse
oficialmente de reconhecê-la como uma assembleia reunida sobre o terreno
divino. Esta seria uma decisão de ligar tomada no nome do Senhor (Mt 18:18-20).
Se achamos que devemos
deixar uma assembleia por causa de certas coisas acontecendo ali, sem ela ter
sido formalmente repudiada por outra assembleia reunida ao nome do Senhor,
estamos passando na frente do Senhor. Na verdade, estamos praticamente dizendo
que somos mais santos do que o Próprio Senhor. Se Ele ainda pode estar no meio
de uma assembleia em erro (embora entristecido por causa de seu estado), ainda
podemos estar ali também.
O que podemos
fazer até o problema ser corrigido, ou a assembleia desfeita, é “prantear” (TB) por causa do triste estado da assembleia.
Pode ser que o Senhor venha, em uma ação governamental, e lide com o problema
ou com as pessoas culpadas (1 Co 5:1-2). Mas a Escritura não indica que devemos
deixar uma assembleia por causa de seu estado ruim. W. Potter disse, “Suponha
que esta assembleia tenha chegado a um péssimo estado. O que devemos fazer é
humilhar-nos diante do Senhor, e não sair dela.” Ele também disse que “se o Espírito
de Deus nos reuniu ao nome do Senhor, não ousamos abandonar essa posição até termos
a Palavra de Deus para isso.”
A terceira
epístola de João nos dá luz nesse sentido. As condições na assembleia local
onde Gaio vivia eram péssimas, para dizer o mínimo. Um ancião na assembleia (Diótrefes)
tinha deixado seu papel de guiar, cuidar e pastorear o rebanho, e tinha tomado
o controle da assembleia, e a governava de maneira carnal. Ele era um ancião louco
por poder que acabou errando. O resultado foi muitas pessoas sendo afligidas por
seu modo de agir bruto e focado somente em si (compare Jeremias 10:21). Os seis males de Diótrefes foram:
- Ele amava a primazia, tendo assumido
sozinho o controle da assembleia.
- Ele suprimiu uma carta do apóstolo
João endereçada à assembleia.
- Ele acusou os apóstolos injustamente
com palavras maliciosas.
- Ele se recusava a receber aqueles
que saíam para trabalhar na Palavra e na doutrina.
- Ele impedia aqueles que recebiam os
obreiros.
- Ele excomungava as pessoas injustamente.
Podemos
perguntar, “Em tais condições, o que os justos podem fazer?” (Sl 11:3) Você vai
notar que existem duas coisas que chamam a atenção por não estarem presentes na
epístola. Primeiro, o apóstolo João não diz para Gaio
sair da assembleia por conta das coisas terríveis que estavam acontecendo ali. João
não disse a ele: “Gaio, você não precisa aturar isso; simplesmente faça as
malas e saia. Não, essa não era uma opção. Segundo, João não mandou Gaio pegar Demétrio
e alguns dos outros irmãos ali e colocar aquele homem fora de comunhão
(excomunhão). Não que isso não devesse ser feito – seria a coisa certa a fazer.
Mas essa epístola vê as coisas em uma assembleia quando as condições ficaram
tão ruins que já não há nenhum poder para lidar com o mal. (Por ser uma “terceira”
epístola, ela apresenta as condições que surgiram a partir do que encontramos
nas “segundas” epístolas.) Não adiantaria nada tentar lutar contra Diótrefes,
porque os que tentaram acabaram eles próprios fora de comunhão! Ele tinha o
domínio na assembleia e iria expulsar qualquer um que oferecesse resistência. Então,
tentar excomungá-lo realmente não era algo que a assembleia tinha o poder de
fazer.
Quando as
coisas tiverem chegado a esse ponto em uma assembleia, essa epístola nos mostra
que ainda existe um recurso: o Próprio Senhor. Como Cabeça da Igreja, naquela época
Ele poderia enviar um apóstolo para lidar com o problema. Isso é visto nas
palavras de João, “Se eu for, trarei à memória as obras que ele
faz” (vs. 10, 14). João
planejava ir àquela assembleia e tratar com Diótrefes em juízo apostólico. Seria
uma intervenção divina, porque suas ações como apóstolo eram na verdade uma
extensão da autoridade do Senhor. Hoje, não existem apóstolos na Terra para
intervir em nome do Senhor dessa maneira, mas o Senhor ainda pode intervir governamentalmente
– de modo providencial – em situações difíceis na assembleia. A ida de João
talvez represente essa realidade em nossos dias. Assim como Gaio, e quaisquer
outros santos exercitados naquela assembleia, devemos esperar o Senhor agir no tempo
d’Ele.
Enquanto isso,
João disse a Gaio “imites...
o que é bom” (ARA) e para não cair no mal de Diótrefes. Parece que João se antecipou
a Gaio, perguntando como isso poderia ser feito em uma situação tão difícil como
a que existia naquela assembleia, então João apontou para Demétrio, como se ele
dissesse, “Ele é o seu exemplo”. Ele disse, “Todos dão
testemunho de Demétrio, até a mesma verdade”. Isso é bastante surpreendente. “Todos” incluiria Diótrefes! Significa que
Demétrio vivia de um modo que ele tinha um bom testemunho de Diótrefes. Mesmo
assim, João acrescenta, “e até da mesma [própria – ARA] verdade”. Isso indica que Demétrio não tinha comprometido a
verdade. Quer dizer que ele tinha encontrado uma maneira de continuar na
presença de Diótrefes e ainda viver de uma maneira que iria agradar ao Senhor. Isso
nos mostra que existe um jeito de prosseguir, mesmo nas circunstâncias mais
difíceis em uma assembleia. A solução é não sair.
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RESUMO: A existência de problemas ou do mal em uma assembleia
não significa que essa assembleia não esteja em terreno divino, mas, antes, que
está em um fraco estado. Se uma assembleia continuar em um curso impróprio, ela
acabará por ser formalmente repudiada e não mais estará reunida ao nome do Senhor.
Enquanto não chega esse momento, o Senhor ainda está no meio dela, ainda que
certamente entristecido por seu pobre estado. Nosso papel é permanecer ali até
que o Senhor intervenha para colocá-la em ordem, ou até que a assembleia seja
formalmente excluída.
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