quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

CAPÍTULO 6: Como o Senhor Pode Estar no Meio Quando Há Tantas Coisas Erradas?


PERGUNTA: Como pode ser este o lugar certo quando existe todo tipo de coisas erradas acontecendo? Existem brigas, divisões, mundanismo, etc. Se o Senhor estivesse verdadeiramente no meio, Ele não permitiria que essas coisas acontecessem.
RESPOSTA: O problema aqui é fazer da tolerância do mal em uma assembleia o critério para julgar se ela está, ou não, reunida no terreno certo. Mais uma vez, conseguimos entender como uma pessoa pode chegar a essa conclusão: você naturalmente pensaria que se o Senhor estivesse verdadeiramente no meio de um determinado grupo de Cristãos, não existiriam problemas. Ele não permitiria que a situação continuasse, porque se permitisse, então Ele estaria consentindo com ela, o que é algo que Ele não faria.
Bem, não somos os primeiros a levantar esta questão. Há muito tempo, Gideão perguntou, “Ai, Senhor meu, se o Senhor é conosco por que tudo isto nos sobreveio?” (Jz 6:13) Esse dilema é resultado de uma falsa premissa. A verdade é que o Senhor está no meio dos “santos reunidos” para sancionar esse terreno eclesiástico, mas isso não equivale a Ele consentir no estado deles. A Escritura faz distinção entre essas duas coisas, e precisamos fazer também. Se as enxergarmos como uma coisa só, vamos acabar tirando conclusões equivocadas. Isso vale para a vida pessoal como também para a vida de assembleia. Por exemplo, como crentes, o Senhor está conosco o tempo todo em um sentido individual (Mt 28:20; Hb 13:5), mas não podemos com isso concluir que Ele concorda com tudo o que fazemos. E, é claro, o mesmo ocorre com a assembleia.
Isso é ilustrado em Malaquias. Como você deve saber, Malaquias teve o solene dever de entregar a última mensagem de Deus ao Seu povo terreno – os judeus – antes que o Senhor viesse. O povo, no tempo de Malaquias, estava em uma posição correta, porém em uma condição errada. Tendo retornado da Babilônia para o centro divino daquela época (Jerusalém), eles estavam no lugar correto. Sendo assim, eles tinham a presença do Senhor “com” eles (Ag 2:4-5). Mas eles estavam em um estado errado, e por isso Malaquias foi enviado para fazer o povo se exercitar a esse respeito. Poderíamos nos perguntar como o Senhor poderia habitar entre eles quando havia todo tipo de coisas erradas acontecendo, mas é porque a presença do Senhor com Seu povo (coletivamente) não equivale a Ele aprovar o estado em que estão.
No Novo Testamento, vemos a mesma coisa. O estado da assembleia em Corinto era deplorável. Havia todo tipo de coisas iníquas acontecendo: divisão, fornicação, má doutrina e outras coisas que atingiam os fundamentos da fé. Ainda assim, quando o apóstolo Paulo lhes escreveu, ele se dirigiu a eles como a assembleia de Deus. Eles ainda eram reconhecidos como uma assembleia que era, no que diz respeito ao terreno divino, de Deus. Ele a reconhecia como tal. No capítulo 5, ele afirma que, quando eles estavam reunidos (ARA), era com o poder de nosso Senhor Jesus Cristo (KJV). De acordo com Mateus 18:18-20, esse poder ou autoridade só se verifica se o Senhor estiver no meio. Logo, não só essa assembleia ainda era reconhecida por Deus, como também o Senhor estava lá no meio deles. Repare que o versículo não diz “Onde estiverem dois ou três, indo bem em um bom estado, reunidos... aí estou Eu no meio”. Tal condição não é colocada nele.
Novamente, podemos nos perguntar como era possível o Senhor ainda Se identificar com uma assembleia que tinha errado daquela forma. Não é que o Senhor concordava com o mal existente em Corinto; Ele não iria suportá-lo indefinidamente, pois isso passaria uma mensagem errada ao mundo. Mas naquele momento em que Paulo escreveu a epístola, o Senhor estava dando oportunidade para arrependimento. Cedo ou tarde, o apóstolo teria que vir em nome do Senhor e tratar em julgamento com essa assembleia se eles não consertassem as coisas (1 Co 4:21; 2 Co 1:23). Como vocês sabem, o aviso dado na primeira epístola foi recebido, e os santos de Corinto se arrependeram e corrigiram as coisas que estavam deficientes (2 Co 7:6-16). Isso mostra que o Senhor não remove o castiçal em um lugar rapidamente, mas dá oportunidade para arrependimento quando as coisas estão erradas (Ap 2:21). É interessante notar que, em Apocalipse 2:5, a palavra “brevemente” (como encontramos na KJV e em muitas versões em português) não está no texto original grego. Ali deveria estar simplesmente, “a ti virei e tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te arrependeres”.
A partir da falsa premissa de que o Senhor não poderia estar no meio de uma assembleia que tem coisas nela que estão erradas, surge a ideia de que deveríamos deixá-la por ela estar em tal estado. O raciocínio é que, se o Senhor não está ali, então nós também não deveríamos estar, pois você não iria querer estar em um lugar onde o Senhor não está no meio. Alguns que queriam deixar a assembleia de qualquer jeito usaram essa falsa premissa como uma desculpa conveniente para uma saída rápida. O velho clamor é: “Existe mal ali, e o Senhor certamente não iria querer que eu estivesse em comunhão com o mal!”
O erro aqui é imaginarmos que existe um determinado grau de problemas e de mal que pode ser tolerado em uma assembleia; e se esse limite é ultrapassado, de algum modo essa assembleia misticamente perde o status de estar em terreno divino. Como todo mundo tem uma ideia diferente sobre qual é esse grau, fica a critério de cada um decidir quando ele acha que uma assembleia não está mais verdadeiramente reunida ao nome do Senhor. Isso nos faz lembrar dos dias em que os juízes governavam. No final do livro diz que “cada um fazia o que parecia reto aos seus olhos” (Jz 21:25). Infelizmente, esse tipo de coisa leva à confusão.
Tem-se perguntado com frequência: “Quando uma pessoa deve deixar uma assembleia?” É simplesmente isto: você sai quando o Senhor sai. Mas quando isso acontece? Nos dias dos apóstolos, seria quando a assembleia deliberadamente se recusasse a corrigir os assuntos dentro dela, e um apóstolo tratasse com ela em julgamento apostólico agindo pelo Senhor (1 Co 4:21; 2 Co 1:23). Hoje, seria quando outra assembleia reunida ao nome do Senhor, depois de muito protesto e longanimidade deixasse oficialmente de reconhecê-la como uma assembleia reunida sobre o terreno divino. Esta seria uma decisão de ligar tomada no nome do Senhor (Mt 18:18-20).
Se achamos que devemos deixar uma assembleia por causa de certas coisas acontecendo ali, sem ela ter sido formalmente repudiada por outra assembleia reunida ao nome do Senhor, estamos passando na frente do Senhor. Na verdade, estamos praticamente dizendo que somos mais santos do que o Próprio Senhor. Se Ele ainda pode estar no meio de uma assembleia em erro (embora entristecido por causa de seu estado), ainda podemos estar ali também.
O que podemos fazer até o problema ser corrigido, ou a assembleia desfeita, é prantear (TB) por causa do triste estado da assembleia. Pode ser que o Senhor venha, em uma ação governamental, e lide com o problema ou com as pessoas culpadas (1 Co 5:1-2). Mas a Escritura não indica que devemos deixar uma assembleia por causa de seu estado ruim. W. Potter disse, “Suponha que esta assembleia tenha chegado a um péssimo estado. O que devemos fazer é humilhar-nos diante do Senhor, e não sair dela.” Ele também disse que “se o Espírito de Deus nos reuniu ao nome do Senhor, não ousamos abandonar essa posição até termos a Palavra de Deus para isso.”
A terceira epístola de João nos dá luz nesse sentido. As condições na assembleia local onde Gaio vivia eram péssimas, para dizer o mínimo. Um ancião na assembleia (Diótrefes) tinha deixado seu papel de guiar, cuidar e pastorear o rebanho, e tinha tomado o controle da assembleia, e a governava de maneira carnal. Ele era um ancião louco por poder que acabou errando. O resultado foi muitas pessoas sendo afligidas por seu modo de agir bruto e focado somente em si (compare Jeremias 10:21). Os seis males de Diótrefes foram:
  • Ele amava a primazia, tendo assumido sozinho o controle da assembleia.
  • Ele suprimiu uma carta do apóstolo João endereçada à assembleia.
  • Ele acusou os apóstolos injustamente com palavras maliciosas.
  • Ele se recusava a receber aqueles que saíam para trabalhar na Palavra e na doutrina.
  • Ele impedia aqueles que recebiam os obreiros.
  • Ele excomungava as pessoas injustamente. 

Podemos perguntar, “Em tais condições, o que os justos podem fazer?” (Sl 11:3) Você vai notar que existem duas coisas que chamam a atenção por não estarem presentes na epístola. Primeiro, o apóstolo João não diz para Gaio sair da assembleia por conta das coisas terríveis que estavam acontecendo ali. João não disse a ele: “Gaio, você não precisa aturar isso; simplesmente faça as malas e saia. Não, essa não era uma opção. Segundo, João não mandou Gaio pegar Demétrio e alguns dos outros irmãos ali e colocar aquele homem fora de comunhão (excomunhão). Não que isso não devesse ser feito – seria a coisa certa a fazer. Mas essa epístola vê as coisas em uma assembleia quando as condições ficaram tão ruins que já não há nenhum poder para lidar com o mal. (Por ser uma “terceira” epístola, ela apresenta as condições que surgiram a partir do que encontramos nas “segundas” epístolas.) Não adiantaria nada tentar lutar contra Diótrefes, porque os que tentaram acabaram eles próprios fora de comunhão! Ele tinha o domínio na assembleia e iria expulsar qualquer um que oferecesse resistência. Então, tentar excomungá-lo realmente não era algo que a assembleia tinha o poder de fazer.
Quando as coisas tiverem chegado a esse ponto em uma assembleia, essa epístola nos mostra que ainda existe um recurso: o Próprio Senhor. Como Cabeça da Igreja, naquela época Ele poderia enviar um apóstolo para lidar com o problema. Isso é visto nas palavras de João, “Se eu for, trarei à memória as obras que ele faz” (vs. 10, 14). João planejava ir àquela assembleia e tratar com Diótrefes em juízo apostólico. Seria uma intervenção divina, porque suas ações como apóstolo eram na verdade uma extensão da autoridade do Senhor. Hoje, não existem apóstolos na Terra para intervir em nome do Senhor dessa maneira, mas o Senhor ainda pode intervir governamentalmente – de modo providencial – em situações difíceis na assembleia. A ida de João talvez represente essa realidade em nossos dias. Assim como Gaio, e quaisquer outros santos exercitados naquela assembleia, devemos esperar o Senhor agir no tempo d’Ele.
Enquanto isso, João disse a Gaio imites... o que é bom (ARA) e para não cair no mal de Diótrefes. Parece que João se antecipou a Gaio, perguntando como isso poderia ser feito em uma situação tão difícil como a que existia naquela assembleia, então João apontou para Demétrio, como se ele dissesse, “Ele é o seu exemplo”. Ele disse, “Todos dão testemunho de Demétrio, até a mesma verdade”. Isso é bastante surpreendente. “Todos” incluiria Diótrefes! Significa que Demétrio vivia de um modo que ele tinha um bom testemunho de Diótrefes. Mesmo assim, João acrescenta, “e até da mesma [própria – ARA] verdade”. Isso indica que Demétrio não tinha comprometido a verdade. Quer dizer que ele tinha encontrado uma maneira de continuar na presença de Diótrefes e ainda viver de uma maneira que iria agradar ao Senhor. Isso nos mostra que existe um jeito de prosseguir, mesmo nas circunstâncias mais difíceis em uma assembleia. A solução é não sair.
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RESUMO: A existência de problemas ou do mal em uma assembleia não significa que essa assembleia não esteja em terreno divino, mas, antes, que está em um fraco estado. Se uma assembleia continuar em um curso impróprio, ela acabará por ser formalmente repudiada e não mais estará reunida ao nome do Senhor. Enquanto não chega esse momento, o Senhor ainda está no meio dela, ainda que certamente entristecido por seu pobre estado. Nosso papel é permanecer ali até que o Senhor intervenha para colocá-la em ordem, ou até que a assembleia seja formalmente excluída.

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